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12.4.20

Madrugada e Meia – O irmão falecido


Capítulo 3


Minha mãe era um pouco estranha, de tempos em tempos se trancava em seu quarto, passava dias sem olhar para luz do sol ou para a cara das pessoas, nem mesmo para a minha e a do meu irmão mais novo. A única ordem expressa da mamãe era que não poderíamos sair de casa, era somente na hora de ir e voltar da escola que víamos a cara da rua, até que começou a beber, às vezes um minuto fora da hora valia algumas palmadas e gritos, nós nunca sabíamos ao certo quando ela estava em casa, não adiantava bater na porta do quarto. Nós, por isso, acabávamos presos dentro de casa o dia inteiro assistindo à televisão, brincando em silêncio para não incomodar porque isso também rendia gritos e pancadas.
Um belo dia ao voltar da escola, encontramos a porta trancada, chamamos por horas e nada da minha mãe sair, o Guto era novo demais e estava com fome, por sorte eu roubei da carteira de minha mãe alguns trocados, era para comprar figurinha, mas decidi salvar meu pequeno irmão da fome, nem quando voltamos a porta se abriu e foi assim por longos 4 dias, então, os policiais chamados pelos vizinhos arrombaram a porta e nossa mãe estava morta, ela tomou soda cáustica suicidando-se sem ao menos chamar por socorro. Após isso minha infância foi em abrigos para bastardos, no primeiro dia que entrei com o Guto, por ser muito novo, ele chorava e isso acabou incomodando alguns dos meninos, sabe aqueles que querem bater em todo mundo? Na primeira vez eu deixei, na segunda eles mexeram com o Guto e comigo e na terceira, eu dei meu primeiro soco, mas também tomei meu primeiro soco na cara, aquilo me rendeu um nariz quebrado e o jorro de sangue acabou por chamar atenção dos monitores que nos castigaram a todos, por causa desse episódio, me tornei um garoto popular entre as outras crianças e foi onde conheci o Johnny, o nome dele é João Otávio Pinto e na adolescência adotou o apelido de Johnny. Fizemos uma amizade que durou apenas alguns meses, pois fomos expulsos do abrigo devido as artes que aprontávamos, o Guto era o mais novo e tinha muito medo das coisas, Johnny sempre foi desencanado com tudo e eu, o agitador mirim, gostava de tudo que dava prazer. Desde menino fui assanhado, o que me rendeu a muitos castigos, Jhonny foi expulso porque foi pego transando com uma das monitoras separando para sempre aquele trio. Os anos foram passando até que resolvemos fugir do orfanato, eu devia ter meus 16 anos e tinha uma predisposição imensa à vida noturna e, na primeira oportunidade de sair para a noitada, conheci uma garota que me deu meu primeiro disco do Sex Pistols, o nome dela era Jéssica e como era linda aquela menina, desse dia em diante, eu não dormia mais em casa, passava 3 ou 4 dias fora e raramente não chegava embriagado. Guto era mais tímido e adorava ouvir minhas aventuras, um dia por causa do seu aniversário, eu o levei comigo a uma festa que acabou em uma tremenda briga, garrafas voando e para variar, eu estava quase caindo de tão bêbado. A briga estourou para cima de mim e do Guto e, infelizmente, ele tomou uma garrafada na cabeça. Acabamos indo parar no hospital, ele com traumatismo craniano e eu em coma alcoólico. Quando acordei e vi o saco de glicose pendurado, escutei um casal conversando sobre uma festa que realmente havia sido boa, olhei para o lado e a garota que estava em pé era a Jéssica. Inacreditavelmente, o cara deixado ali também tomando glicose era o Johnny. Quase caindo me aproximei, mas ao chegar perto tropecei em uma cama que havia no caminho e caí de boca no chão, bem nos pés daquela garota, obviamente ambos gargalhavam enquanto a Jéssica me ajudava a se levantar. Conversamos bastante até que em determinado momento, um médico entrou e me falou que meu irmão ainda estava em coma. Ele precisava do telefone de nossos pais, então um choque de realidade bateu em mim e em meio ao desespero pela culpa de ter causado mal ao meu irmão, dei o telefone da residência de alguns amigos maiores de idade, que se passavam por nossos pais quando rolava uma emergência. Guto passou alguns dias em coma e quando acordou não se lembrava de nada do que tinha acontecido antes, não lembrava sequer que eu era seu irmão! Resolvi que aquele era o momento de largar tudo e seguir minha vida, fugi de casa mais uma vez deixando Guto a própria sorte e acabei vivendo pelos bares, pelos cantos, entre ruas, então no meio de uma das minhas andanças pelo centro da cidade, eu encontrei novamente o Johnny. Ele estava bebendo algumas cervejas e me chamou, fomos morar juntos em uma colônia instalada em um prédio abandonado, ele se tornara viciado em drogas e também estava sem residência. Juntos, como irmãos, vivemos durante dois anos, furtando mercados e bebendo até cair todos os dias.
Um dia, num show de uma banda que cantava as músicas dos Sex Pilstols, eu reencontrei Jéssica, ela era conhecida por Viúva Negra, na ocasião, me contou que casou com um velho e na lua de mel, ele morreu na cama de ataque cardíaco. Ela era chamada assim por essa razão. Nós nos entendemos e ela me ensinou a arte, tudo sobre as noites da cidade, sobre o estilo alternativo, acabamos nos tornando um casal bem feliz apesar das brigas que iam de troca de socos e pontapés, ela batia mais forte e eu sempre estava bêbado, assim fomos vivendo.
Certa vez, num barzinho na Zona Norte, após ter vomitado até as tripas, começamos a discutir feio e partimos para agressão física, aquilo me fez querer ir embora, ela me seguiu aos berros por um longo caminho até que parei. Num impulso descontrolado, puxei da cintura uma faca que carregava comigo para casos de emergência, eu estava muito bêbado e estimulado pela cocaína, não tinha noção das coisas que estavam acontecendo. Ela me desarmou, me deu uma facada e nesse momento como por ironia do destino, depois dela fugir, eu fui salvo pelo Guto e sua turma. Depois do acidente, ele se tornou uma pessoa muito diferente, estava mais violento, formou uma gang e saía pelas ruas entre confusões e arruaças, eu não sabia quantas sequelas havia deixado aquele acidente. Ele não me conhecia mais devido a sua perda de memória, ao esticar a mão e perguntar se estava tudo bem, eu o reconheci e desmaiei, ao acordar, eles estavam me carregando para um pronto socorro, o Guto se virou para mim e disse:
- Pô cara, você perdeu bastante sangue, sua sorte que te encontramos hein!
Eu só fiz um sinal com a cabeça e tentei me erguer sozinho, eles improvisaram uma atadura com uma camiseta. Eu me recompus rápido e segui com eles até o pronto socorro, no caminho cheguei ao meu irmão e falei:
- Você é o Guto? Filho do seu José e da dona Gumercinda?
- Sou cara, mas para você conhecer meus pais deve ser policial ou inimigo.
Ele puxou uma buterfly e a rodopiou entre os dedos, jogou pra cima e quando a pegou aberta, a ponta já estava bem próxima do meu pescoço, ele disse depois de uma gargalhada:
- Meu Irmão, vai falando antes que não tenha mais língua, já ouviu falar em gravata colombiana?
- Espera, calma sou teu irmão, não se lembra? Aquele acidente foi culpa minha ou é mentira que teve um traumatismo craniano e passou um tempo no hospital?
- Eu sou filho único e você já sabe de mais da minha vida, vai começando a rezar! Galera vamos primeiro dar um pau neste aqui e depois o desovamos em algum canto.
Foi neste momento que me levantei com uma coragem que não sei de onde veio, olhei no fundo dos seus olhos e contei como nossa mãe tinha morrido. Os olhos dele encheram de lágrimas e num surto psicótico, ele mandou que todos se afastassem, me deu um abraço e disse:
- Essa é a única coisa do meu passado que lembro, vou acreditar que é meu irmão, mas se mentir para mim cara, não será só o seu rosto que ficará marcado à faca, não me lembro de ter irmão, mas meus amigos me contaram do acidente e ninguém conhece essa história. Chegando ao hospital depois de me costurar, a enfermeira disse que os rapazes que chegaram comigo deixaram um pedaço de papel e pediram para me entregar. Estava escrito:

“Se o que me disse é verdade, te defendo com minha vida, se o que diz for mentira, tua vida e de todos os seus serão castigadas!
Enquanto isso não nos procure, deixe que nós te encontramos.
Marginais Sóciopatas.
A mais temida! ”

Ao sair do hospital, encontrei a Jéssica em prantos com uma saudade que nunca havia visto nela e fomos para a casa que estávamos ocupando. Naquela semana, eu acabei morto ao buscar drogas em um beco, dois caras em cima de uma moto passaram atirando, mas eu havia marcado a vida de todos os que foram importantes para mim.


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